E nesse ano a noite preta pega a porta
Known as ‘The Troubadour of the Apocalypse’ or ‘The Bob Dylan of the Sertão’, Zé Ramalho is an important Brazilian singer and composer. Not as celebrated or embraced as other artists of his generation - such as Caetano Veloso or Alceu Valença - Zé Ramalho seems to still inhabit a place of shadows, considered dubious by some.
Born in Brejo do Cruz, Paraíba (1949) he played an important part in the psychedelic music scene which emerged in Pernambuco in the 1970s, characterised by a “lysergic mix of rock and roll with forró, baião, repente, xaxado, embolada and frevo influences”. Some members of the scene, such as the band Ave Sangria or the musician Marconi Notaro achieved cult-like status, whereas Zé Ramalho was signed to big labels, featured on soap opera soundtracks, and has, through highs and lows, obtained significant popular recognition in the last 40 years. However, he has always been connected to the mysticism of the sertanejo, and his songs incorporate an extraterrestrial atmosphere, of stories of UFOs and hallucinogenic mushrooms found in the arid pastures of the sertão of the Northeast. Such interests are associated with political, aesthetic, social and philosophical questions, embodied in his language, performance and persona.
His first two albums, Zé Ramalho, (which features YES keyboardist Patrick Moraz on Avôhai and Dominguinhos playing accordion on A Noite Preta) from 1978, and A Peleja do Diabo com o Dono do Céu (cover photos and set by Ivan Cardoso, special guest appearances from Zé do Caixão and Hélio Oiticica) from 1979, are important documents of his approach, which brought together aspects of psychedelia, acoustic guitar, cowboy culture, horror films and ‘cordel poetry’. In 2003, Dance of the Butterflies, a song from his first album, was reworked into a more loaded, sombre version, in a collaboration between Ramalho and the heavy metal band Sepultura, again showing his strength for juxtaposing complex images.
Ramalho haunts the project like a ghost, with the atmosphere evoked by his figure being the curatorial argument of the show. The period 1978 - 2018, which goes from the release of the first record to the present day, invites us to rewind and advance, rewind and advance. We may inhabit the future of prophecies or the past of myths and legends and we will still be in the same place.
The stage is set, but not above us. If backstage is part of the scene, the works can now be seen inside out. So they whisper: caves, solitude and bravery, giants, messiahs, vampiric, darkness, the red moon, owls, violeiros, foreboding, energetic interactivity, alien presence, isolation. Together, they make up a game of cards for what is foreshadowed under the aridity of the high sun, or under the total darkness of the black night.
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Intitulado “O Trovador do Apocalipse” ou “O Bob Dylan do Sertão”, Zé Ramalho é um importante cantador e compositor brasileiro. Não tão celebrado e incorporado como outros artistas de sua geração - Caetano Veloso ou Alceu Valença, por exemplo -, Zé Ramalho ainda parece habitar um lugar de sombras, tido por alguns como duvidoso.
Nascido em Brejo do Cruz, no interior da Paraíba (1949), assumiu um papel relevante na cena musical psicodélica que surgiu em Pernambuco nos anos 1970, caracterizada por “uma mistura lisérgica de rock’n’roll com influências de forró, baião, repente, xaxado, embolada e frevo”. Alguns integrantes de tal cena, como a banda Ave Sangria ou o músico Marconi Notaro, foram eternizados como símbolos cult, Zé Ramalho, por outro lado, assinou com grandes gravadoras, transitou por trilhas sonoras de telenovelas e, entre altos e baixos, obteve um significativo reconhecimento popular nos últimos 40 anos. Ainda assim, sempre esteve conectado a misticismos sertanejos, incorporando em suas canções uma atmosfera extraterrestre e extraterrena, das histórias de OVNIS e cogumelos alucinógenos que eram encontrados nos pastos áridos do sertão nordestino. Tais interesses estão associados a questionamentos políticos, estéticos, sociais e filosóficos, corporificados em sua linguagem, performance e persona.
Seus dois primeiros discos Zé Ramalho (participação do tecladista da banda YES, Patrick Moraz, em Avôhai e de Dominguinhos na sanfona de A noite preta) de 1978 e A Peleja do Diabo com o Dono do Céu (cenário e fotos da capa por Ivan Cardoso, participações especiais de Zé do Caixão e Hélio Oiticica) de 1979, são importantes registros de como abordava essas preocupações através da aproximação entre aspectos da psicodelia, do violão acústico, da cultura vaqueira, do cinema de horror e da poesia de cordel. No ano de 2003, Dança das Borboletas, música de seu primeiro disco, ganhou uma versão mais carregada e sombria, parceria de Ramalho com a banda de Heavy Metal Sepultura, indicando mais uma vez sua força em justapor imagens complexas.
O cantor atua no projeto como uma espécie de assombração, sendo a atmosfera que sua figura evoca o argumento curatorial da mostra. O arco temporal de 1978 a 2018 - período que marca o lançamento do primeiro disco até os dias de hoje - nos convida a rebobinar e a avançar, rebobinar e avançar. Podemos já habitar o futuro das profecias ou o passado dos mitos e lendas e ainda estaremos no mesmo lugar.
O palco está montado, mas não acima de nós. Se os bastidores fazem parte da cena, as obras agora podem ser vistas pelo avesso. Então sussurram: cavernas, solidão e bravura, gigantes, messias, vampírico, trevas, lua vermelha, corujas, violeiros, pressentimento, interatividade energética, presença alienígena, isolamento. Juntas, compõem um jogo de cartas para o que se prenuncia sob a aridez do sol a pino ou sob a escuridão total da noite preta.
Born in Brejo do Cruz, Paraíba (1949) he played an important part in the psychedelic music scene which emerged in Pernambuco in the 1970s, characterised by a “lysergic mix of rock and roll with forró, baião, repente, xaxado, embolada and frevo influences”. Some members of the scene, such as the band Ave Sangria or the musician Marconi Notaro achieved cult-like status, whereas Zé Ramalho was signed to big labels, featured on soap opera soundtracks, and has, through highs and lows, obtained significant popular recognition in the last 40 years. However, he has always been connected to the mysticism of the sertanejo, and his songs incorporate an extraterrestrial atmosphere, of stories of UFOs and hallucinogenic mushrooms found in the arid pastures of the sertão of the Northeast. Such interests are associated with political, aesthetic, social and philosophical questions, embodied in his language, performance and persona.
His first two albums, Zé Ramalho, (which features YES keyboardist Patrick Moraz on Avôhai and Dominguinhos playing accordion on A Noite Preta) from 1978, and A Peleja do Diabo com o Dono do Céu (cover photos and set by Ivan Cardoso, special guest appearances from Zé do Caixão and Hélio Oiticica) from 1979, are important documents of his approach, which brought together aspects of psychedelia, acoustic guitar, cowboy culture, horror films and ‘cordel poetry’. In 2003, Dance of the Butterflies, a song from his first album, was reworked into a more loaded, sombre version, in a collaboration between Ramalho and the heavy metal band Sepultura, again showing his strength for juxtaposing complex images.
Ramalho haunts the project like a ghost, with the atmosphere evoked by his figure being the curatorial argument of the show. The period 1978 - 2018, which goes from the release of the first record to the present day, invites us to rewind and advance, rewind and advance. We may inhabit the future of prophecies or the past of myths and legends and we will still be in the same place.
The stage is set, but not above us. If backstage is part of the scene, the works can now be seen inside out. So they whisper: caves, solitude and bravery, giants, messiahs, vampiric, darkness, the red moon, owls, violeiros, foreboding, energetic interactivity, alien presence, isolation. Together, they make up a game of cards for what is foreshadowed under the aridity of the high sun, or under the total darkness of the black night.
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Intitulado “O Trovador do Apocalipse” ou “O Bob Dylan do Sertão”, Zé Ramalho é um importante cantador e compositor brasileiro. Não tão celebrado e incorporado como outros artistas de sua geração - Caetano Veloso ou Alceu Valença, por exemplo -, Zé Ramalho ainda parece habitar um lugar de sombras, tido por alguns como duvidoso.
Nascido em Brejo do Cruz, no interior da Paraíba (1949), assumiu um papel relevante na cena musical psicodélica que surgiu em Pernambuco nos anos 1970, caracterizada por “uma mistura lisérgica de rock’n’roll com influências de forró, baião, repente, xaxado, embolada e frevo”. Alguns integrantes de tal cena, como a banda Ave Sangria ou o músico Marconi Notaro, foram eternizados como símbolos cult, Zé Ramalho, por outro lado, assinou com grandes gravadoras, transitou por trilhas sonoras de telenovelas e, entre altos e baixos, obteve um significativo reconhecimento popular nos últimos 40 anos. Ainda assim, sempre esteve conectado a misticismos sertanejos, incorporando em suas canções uma atmosfera extraterrestre e extraterrena, das histórias de OVNIS e cogumelos alucinógenos que eram encontrados nos pastos áridos do sertão nordestino. Tais interesses estão associados a questionamentos políticos, estéticos, sociais e filosóficos, corporificados em sua linguagem, performance e persona.
Seus dois primeiros discos Zé Ramalho (participação do tecladista da banda YES, Patrick Moraz, em Avôhai e de Dominguinhos na sanfona de A noite preta) de 1978 e A Peleja do Diabo com o Dono do Céu (cenário e fotos da capa por Ivan Cardoso, participações especiais de Zé do Caixão e Hélio Oiticica) de 1979, são importantes registros de como abordava essas preocupações através da aproximação entre aspectos da psicodelia, do violão acústico, da cultura vaqueira, do cinema de horror e da poesia de cordel. No ano de 2003, Dança das Borboletas, música de seu primeiro disco, ganhou uma versão mais carregada e sombria, parceria de Ramalho com a banda de Heavy Metal Sepultura, indicando mais uma vez sua força em justapor imagens complexas.
O cantor atua no projeto como uma espécie de assombração, sendo a atmosfera que sua figura evoca o argumento curatorial da mostra. O arco temporal de 1978 a 2018 - período que marca o lançamento do primeiro disco até os dias de hoje - nos convida a rebobinar e a avançar, rebobinar e avançar. Podemos já habitar o futuro das profecias ou o passado dos mitos e lendas e ainda estaremos no mesmo lugar.
O palco está montado, mas não acima de nós. Se os bastidores fazem parte da cena, as obras agora podem ser vistas pelo avesso. Então sussurram: cavernas, solidão e bravura, gigantes, messias, vampírico, trevas, lua vermelha, corujas, violeiros, pressentimento, interatividade energética, presença alienígena, isolamento. Juntas, compõem um jogo de cartas para o que se prenuncia sob a aridez do sol a pino ou sob a escuridão total da noite preta.
Após uma experiência de cogumelos, alguns dias depois, me veio toda aquela letra de uma vez só, mal deu tempo de pegar uma caneta, me veio ela todinha. Eu estava no apartamento de minha mãe no Recife e tinha um quadro do Brejo Cruz na parede. Pronto! Eu comecei a olhar o quadro e aí começou a “pshhh”... E eu ouvi uma palavra sussurada no meu ouvido, assim, ele dizia: Avôhai, Avôhai. Era uma coisa que soprava no meu ouvido. Eu achava... o timbre da voz parecia o Bob Dylan, cara... “Avôhai, Avôhai” A letra se transcorreu assim, em dois blocos. E ali tem uma mistura de martelo da galopada, tem mistura de várias modalidades violeiras. A melodia veio a aparecer dias depois... Só que aconteceu do mesmo jeito. Quando eu peguei o violão, que comecei a tocar com a letra na frente... Já comecou a descer aquela coisa... Eu já sabia pra onde é que as harmonias iam, cara... Automaticamente. Isso só aconteceu nessa música e nunca mais!
- Zé Ramalho
- Zé Ramalho
ÁUDIO
O material foi disponibilizado em fones de ouvido na antessala da exposição.
Aqui todo o seu conteúdo audiovisual pode ser acessado clicando nos títulos.
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Já na capa do CD há um clima místico, algo psicodélico, sensação que se repete em temas como “Portal dos Destinos” e “O que ainda vai nascer”.
Esses elementos são fundamentais na sua música?
Entrevista pela Avôhai Music, 2012
4’31”
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“Brasil Adentro - Música de Pernambuco” |
Episódio 03 - Rock e psicodelia em Pernambuco.
Canal Brasil, 2017
Charles Gavin entrevista Zé da Flauta, Lailson, Paulo Rafael, Marco Polo e Robertinho de Recife.
3’46’’
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O Estranho Mundo de Zé Do Caixão - Com Zé Ramalho
Canal Brasil, 2014
20’51’’
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Sepultura e Zé Ramalho entrevista no Rock in Rio
O Globo, 2013
5’11’’
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- Vídeo Show - Segue a Trilha: Zé Ramalho recorda seus sucessos na telinha
Tv Globo, 2011
4’38’’
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ZÉ RAMALHO NO MUSEU UFOLÓGICO DE ITAARA - RS
Tv Globo, 2001
Zé Ramalho em matéria para o Fantástico no Museu Ufológico de Itaara, Rio Grande do Sul.
7’58’’
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Áudio do trailer do filme “Nas paredes da pedra encantada”, 2011
Direção - Cristiano Bastos e Leonardo Bonfim
Nas Paredes da Pedra Encantada é um road movie que viaja pelas lendas do mítico Paêbirú - Caminho da Montanha do Sol, álbum lançando em 1975 por Lula Côrtes e Zé Ramalho. Os diretores Cristiano Bastos e Leonardo Bomfim arrumaram uma Kombi para levar Lula Côrtes de volta a Ingá, recanto do agreste paraibano envolto no misticismo de uma pedra talhada com signos pré-milenares. Entre as lembranças de Lula e as histórias de figuras diversas da cena udigrudi nordestina, (como Lailson, Alceu Valença e Kátia Mezel) o filme investiga, não só a riqueza musical de Paêbirú, mas também o imaginário do interior da Paraíba e o momento psicodélico dos anos 70 na ponte entre Recife e João Pessoa.
2’51’’
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Nos últimos anos, você gravou CDS em tributo a Raul Seixas, Bob Dylan, Luiz Gonzaga, Jackson do Pandeiro e Beatles. Prestar essas homenagens lhe trouxe inspiração para as suas próprias composições? De que maneira?
Entrevista pela Avôhai Music, 2012
2’46’’
imagem: Judite (Anna Sousa)
música: A Dança das Borboletas (Zé Ramalho)
fotos: Filipe Berndt
tradução: Philip Somervell
montagem: Maikon Rangel
Sob o pseudônimo de "Ariel", Patrícia Galvão (Pagu) publicou cerca de uma centena de crônicas diárias de 22 de agosto a 31 de dezembro de 1942, no jornal A Noite, de São Paulo.